Morena, tenho um sopro no peito
com saudades de Itauna.
Morena, sopra meu peito pro Norte
pra escutar o forró embalando
nos cabelos seus a noite.
[Adams]
DOENÇA
doente sinto o cuidado do carcereiro
na limpeza surpresa dos incômodos
o remédio amarga o âmago
e o remete ao desassossego
talvez a doença seja a desculpa
por estar preso: o medo da solidão
perdida entre corpos aprisionados
a doença sentencia o fim
da sobrevivência em grades
esgarçadas em anterioridades
refaço as forças e me mostro
no desprezo de quem ainda
repete o tema no grito
agônico das oferendas.
(Pedro Du Bois, A CASA DAS GAIOLAS)
- Pai, quando crescer quero ser careca igual a você.
Ao grito preso
peso o corpo
(ileso espírito)
em despropositadas emórias
de aguardados espaços
vazios de recomposição
não posso prender o grito
contido nos anos proibidos
e inibir a mão coordenada
em textos inertes
borbulhantes escoam
pelas bordas e inundam
meus dias
não posso ser afogado
em lembranças
desconsideradas.
(Pedro Du Bois, inédito)
Na mancha
marcha impávido soldado
em soldo
desconsolado
na marcha
a mancha diluída
em progresso
ingressa na realidade
e a bala o mata
a mata manchada de sangue
seca a mancha inconsolável
do soldado.
(Pedro Du Bois, inédito)
─ Ele morreu lentamente.
─ Mas qual a causa mortis?
─ Não sei, ele morreu lentamente.
─ Lentamente como?
─ Foi morrendo lentamente, perdendo as forças, se apagando devagarinho...
─ Mas você não tentou fazer nada?
─ Fiz tudo que podia.
─ Fez o quê?
─ Tudo.
─ Mas não conseguiu salvá-lo?
─ Salvá-lo?
─ É. Você acabou de nos dizer que fez tudo que podia para salvá-lo.
─ Que salvá-lo? Fiz tudo que podia para que o filho da puta morresse lentamente e fiquei ali olhando sua vida se apagando, devagarinho...
É DE VERDADE (cantiga do tempo)
Por Unknown | 2/05/2012 04:17:00 PM em Alexandre Cimatti, amor | comentários (1)
Ávido de paixão
adjetiva a sede
e a bebe sôfrego
(o esforço físico
de estar presente)
na despedida retorna
em ritos mitificados
a arma acena ao crime
continuado
a paixão reduzida na inconsciência
perdida na sofreguidão do corpo
(abatido no esforço
físico da passagem).
(Pedro Du Bois, inédito)